terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Boca no trombone E agora, Bento? Marilei Schiavi


Boca no trombone
E agora, Bento?
Marilei Schiavi

Não conheço um católico que não esteja se perguntando o que realmente fez com que o primeiro papa da era moderna renunciasse. Poder, escândalos, hipocrisia, rede de traições, divisão da Igreja, crise do Vaticano. São muitas as teorias de conspiração e informações contraditórias a confundir a cabeça dos católicos ou de quem quer realmente entender o que está acontecendo com o mundo da Igreja. 
Bento XVI paralisa o seu papado em meio a muitas interrogações e se despede dos fiéis com o gosto de quem está entre a santidade, com a coragem da renúncia, e o desespero de fazer uma tentativa de retomada da Igreja. As razões de sua desistência diante do poder do Vaticano talvez nunca sejam confirmadas, mas os especialistas vão fundo quando discutem o legado de quem faz parte de uma história de poder. Bento XVI fez um sacrifício para salvar a Igreja? 
Ontem mesmo, o chefe da Igreja Católica da Escócia, cardeal Keith O´Brien, pediu demissão como arcebispo de St. Andrews e Edimburgo após ser acusado de "atos impróprios" cometidos há 33 anos. Segundo o Vaticano, o papa aceitou o pedido de demissão por ´motivos de idade´. O´Brien deveria participar do conclave que elegerá o novo pontífice. Entretanto, junto com o anúncio de demisão, informou que não irá ao Vaticano para a eleição. Ele seria o único britânico a participar do conclave.

A Folha de São Paulo estampou ontem a seguinte manchete: "Busca pelo poder dividiu a igreja, diz arcebispo". E o jornal afirma que na véspera de embarcar para Roma, o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e arcebispo de Aparecida, dom Raymundo Damasceno Assis, disse que a renúncia do papa representa um "gesto profético" diante das divisões internas da Igreja Católica provocadas pelo "carreirismo". 
O arcebispo vai ser um dos cinco cardeais brasileiros que estarão no conclave. Aliás, o próprio Vaticano informou ontem que Bento XVI aprovou mudanças na legislação para que os cardeais possam iniciar o conclave antes do prazo estipulado para escolha do novo papa, de 15 dias após a morte ou renúncia de um pontífice. Apesar da mudança, no entanto, não há confirmação de que a reunião será antecipada, nem existe uma data marcada para o início do ritual de escolha do sucessor. 
Diante de tantas interrogações, resta a nós, católicos, rezar pelo papa. Ops, rezar para dois papas! Porque Bento XVI precisará de muita oração também!

Marilei Schiavi é jornalista, radialista, diretora de Jornalismo da Rádio Metropolitana e mestre em Ciências Sociais pela PUC

Fonte:Mogi News