terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Bispo fica surpreso com renúncia do Papa


Bispo fica surpreso com renúncia do Papa
TER, 12 DE FEVEREIRO DE 2013 00:00
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Bispo dom Pedro Luiz Stringhini já esteve com Bento XVI / Foto Arquivo



O bispo da Diocese de Mogi das Cruzes, dom Pedro Luiz Stringhini, afirmou ontem (11) que recebeu com “perplexidade” o anúncio do papa Bento XVI de renúncia ao posto de líder máximo da Igreja Católica. O comunicado, de que renunciará oficialmente às 20 horas do próximo dia 28, foi feito no Vaticano pelo próprio papa, em latim, na manhã dessa segunda-feira e recebido com grande surpresa pelos fieis católicos de todo o mundo. Aos 85 anos, Bento XVI alegou que, em razão da idade, não tem mais forças para continuar. O religioso alemão disse ter consciência da gravidade do ato. Poucas horas após receber a notícia, em entrevista a  O Diário, dom Pedro demonstrou preocupação com a saúde do papa e destacou que a decisão deve ser respeitada.

“Eu, como todo o mundo, recebi com muita perplexidade a renúncia do papa Bento XVI, mas também com muito respeito. Ele deve estar se sentindo sem forças para continuar e isso nos preocupa. João Paulo II era o papa da mística e foi até o fim. Bento XVI é mais da razão e por isso tomou essa atitude muito objetiva. Bento XVI, quando ainda era o cardeal Joseph Ratzinger, aos 75 anos de idade, já queria renunciar da Congregação da Doutrina da Fé e se dedicar aos estudos e à oração. Bastante introspectivo, o papa é uma pessoa muito sábia e meticulosa, que pensa de forma muito clara e, portanto, deve ter refletido bastante para tomar uma atitude como essa. Certamente, foi uma decisão refletida e de extrema necessidade tomada, sobretudo, para o bem da Igreja”, disse dom Pedro.

O bispo diocesano destacou o legado do papa Bento XVI, que renunciará após ter permanecido no posto entre os anos de 2005 e 2008. “Entre os marcos destes oito anos estão a consolidação do Concílio do Vaticano Segundo, a abertura do diálogo com o lado mais tradicionalista da Igreja, a firmeza na doutrina e na defesa do preceitos morais. Ele é um grande teólogo e a partir de agora poderemos degustar de tudo que nos ensinou nesse tempo todo. Há muitas coisas ditas por ele que podemos ler e aprender. O pontificado de Bento XVI foi um grande magistério, de um professor que com suas ideias e serenidade foi orientando a vida da Igreja. Claro que agora há também uma grande expectativa de definição de quem fica no lugar dele e é, portanto, um momento em que queremos todos rezar pela Igreja”.

O bispo emérito de Mogi das Cruzes, dom Paulo Mascarenhas Roxo, lembrou que Bento XVI enfrentou inúmeros desafios nos últimos oito anos, a começar pela rejeição sofrida no início de seu pontificado. O religioso ainda ressaltou que, com o passar do tempo, enfrentou temas polêmicos para a Igreja como, por exemplo, a pedofilia e o embate entre ciência e fé. “Ele teve muitas dificuldades nos últimos tempos e enfrentou problemas sérios dentro da Igreja. Mas, é um homem muito inteligente e soube usar de muita sabedoria. Ele saiu conforme sua consciência e demonstrou muita vontade de desenvolver o pontificado. A renúncia foi um gesto de muita coragem. É um homem de extrema competência e reconhecer que não tem condições de continuar, pela idade, demonstra muita humildade”.

Consultado por  O Diário, o vigário geral da Diocese de Mogi das Cruzes, monsenhor José Eduardo Ferreira, também recebeu com “surpresa” a decisão do papa Bento XVI, já que essa é a segunda vez, em toda a história da Igreja Católica, que ocorre uma renúncia. “Este é um momento de reflexão e de oração. Reflexão para que possamos entender até onde pode ir a capacidade humana, já que o santo padre alegou que a idade lhe trouxe difilculdade de governar a Igreja, com toda a complexidade do mudo de hoje. E oração porque agora cabe ao colégio dos cardeais a escolha do novo papa. Desta vez, a escolha ocorrerá sem que haja tristeza porque o papa não morreu e continuará entre nós com seus ensinamentos e legado”.

O pároco da Catedral de Santana, Claudio Taciano, também comentou a renúncia de Bento XVI: “A notícia pegou a todos de surpresa e eu diria que o sentimento, em um primeiro momento, é de tristeza porque não deixa de ser o fim de um pontificado. Depois, quando o sentimento vai se acalmando, o que me vem em mente é a coragem do papa e a nobreza de falar de si mesmo. Acredito que essa decisão foi movida por um sentimento muito bonito de humildade e coragem. A renúncia demonstra o desprendimento do papa em um mundo onde todos querem salvaguardar o poder a qualquer custo. Mas, a partir de agora, teremos um novo cenário já que nunca antes um papa acompanhou seu sucessor. Acredito que teremos muitas coisas boas pela frente”. (Júlia Guimarães)


Fonte:O Diário de Mogi