sexta-feira, 13 de julho de 2012

Tribuna Livre: Cabaço



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Dirceu Do Valle
OSenado, como mais do que esperado, cassou o mandato do goiano Demóstenes Torres. Sem o assento na Câmara Alta, volta com o rabo entre as pernas para o Ministério Público de Goiás, com a proteção do irmão que por aqueles lados é o procurador-geral de Justiça.


E esperada a cassação não por ser o decoro e a ética o norte da maior parte dos senadores que o julgaram, mas porque, com telhado de vidro, tripudiou sobre colegas em casos que, muito mais que o seu, mereceriam o mesmo desfecho. Apanhado em relações próximas - e, forçoso convir, no mínimo inadequadas - com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, Demóstenes era visto como uma espécie de reserva moral do Congresso. Era quase aquele senador honestíssimo interpretado por Carlos Vereza em O Rei do Gado. Lamentavelmente, para contrariedade de Oscar Wilde, a vida não anda imitando a arte. Caxias, tirante exceções cada vez mais excepcionalíssimas, só na dramaturgia.


Relator da Lei Ficha Limpa que agora o vitima, com a hipocrisia comum de se ver em tantos por aí que se arvoram como modelos de virtude, está inelegível. Condenado ao ostracismo político, deixa em seu lugar Wilder Pedro de Morais, um ilustre desconhecido, mas amigo e financiador de suas campanhas. O suplente, ex-marido de Andressa Mendonça, a atual mulher de Cachoeira, entra no Senado, em observação mais para Caras do que para Veja, como motivo de chacota, uma vez que os "grampos" da Polícia Federal revelaram que, affaire antigo, sua então esposa o traía com o contraventor.


Contudo, não foi de toda imprestável a passagem de Demóstenes pelo ambiente de carpetes azuis. Escancarou mazelas da "esquerda" mais destra que se viu em todos os tempos. Apontou sacanas que com seus feudos se tornaram parasitas da máquina pública. Mas esqueceu que a cada dedo que se aponta tem outros três a lhe apontar. Confirmando a máxima do faço o que eu digo e não faça o que eu faço, mostrou-se um roto falando de esfarrapados. Valendo de muleta passagem de um dos discursos de Abraham Lincoln, tem-se presente no episódio a inexorável afirmação de que pode-se enganar todas as pessoas por algum tempo e algumas pessoas durante todo o tempo, mas não se pode enganar todo o mundo por todo o tempo.


A verdade, por mais doída, é que Demóstenes Torres, perto do jurássico Sarney ou dos alagoanos Collor e Renan Calheiros, não passa, mutatis mutandis, de um reles batedor de carteira. Um pobre coitado. Comparado, então, àqueles que aperfeiçoaram entre nós a cleptocracia como forma de governo, assaltando e aparelhando a administração, uma virgem vestal do campo.


Fonte:Mogi News