segunda-feira, 9 de outubro de 2017

QUADRO DESTAQUE:
Lembranças dos tempos das linotipos, pelo jornalista Luiz Vita

 8 de outubro de 2017  QUADRO DESTAQUE  
Jornalista recorda a época em que chegou a Mogi das Cruzes para estudar e acabou se tornando editor de O Diário

O Diário inicia hoje a publicação de uma série de crônicas do jornalista Luiz Vita, na sequência aos textos que marcam a celebração do 60º aniversário de fundação do jornal. Vita iniciou sua carreira conosco, em meados da década de 1970, ao tempo em que estudava na Universidade de Mogi das Cruzes. Em São Paulo, deu sequência ao trabalho, atuando em algumas das maiores redações do País.
MEMÓRIAS Vita começa a lembrar os tempos em que viveu em Mogi estudando e fazendo jornalismo

MEMÓRIAS Vita começa a lembrar os tempos em que viveu em Mogi estudando e fazendo jornalismo


Diário de um jornalista de província – 1

Vou contar o que aconteceu, enquanto ainda lembro como aconteceu.

Desembarquei em Mogi em 1974 para estudar jornalismo. A Cidade parecia uma miniatura de Ouro Preto. Casarões coloniais com grandes janelas azuis de madeira, ruas de paralelepípedo, praças com coreto, um grande salão de sinuca, dois ou três poetas municipais, um velho cronista que havia sido ferroviário, negro e corpulento como John Coltrane, uma igreja matriz com seus pombos e um jornal que, eu ainda não sabia, passaria a chefiar um ano depois. Tinha 18 anos e, na falta de Paris, Mogi era uma festa.

Quem me levou para o jornal foi o Murilo, um repórter de polícia da velha guarda, que eu conheci no ponto de ônibus quando voltava da faculdade para casa, em São Paulo. Ele era da geração formada na raça e eu estava ali para aprender num banco de escola.

Ele me apresentou ao Tote, de nome Tirreno, como o mar, que banha uma parte da Sicilia, um italiano bonachão, que fazia o jornal com a ajuda de três velhos amigos e alguns gráficos. Quando me recebeu, ele perguntou à queima roupa:

- De repente se escreve junto ou separado?


- Junto, respondi com a convicção que ainda é uma marca de minha atormentada e analfabeta personalidade.

Fui contratado na hora. Claro que o Tote sabia que de repente se escreve separado, mas guardou esse segredo enquanto viveu e eu jamais esqueci de sua generosidade.

Ganhava 50 cruzeiros por semana, que recebia da Lela, que era da família de Tote, e fazia os pagamentos. Era pouco, muito pouco, mas alguns meses depois eu fui registrado em carteira com um salário melhor. [Continua no próximo domingo]

(Luiz Vita)

Fonte:O Diário de Mogi