sexta-feira, 1 de março de 2013

Tribuna Livre Distorção Dirceu Do Valle


Tribuna Livre
Distorção
Dirceu Do Valle
Dia desses, visitando as lembranças de menino, resgatei em algum canto da memória as poucas idas que fiz ao Playcenter.

E nessa nostalgia, entre as lembranças de uma época em que tudo era mais leve, segui enumerando mentalmente os brinquedos preferidos e que entretinham a molecada no parque de diversões, com destaque, ao que aqui interessa, daquela sala cheia de espelhos, todos distorcendo, cada um a sua maneira, a imagem dos que diante deles se postavam. Baixos ficavam altos. Magros ficavam gordos. Cabeças aumentavam e diminuíam. Tudo se modificava. Era engraçado. Bons tempos. Risada geral.

Abrindo os jornais da semana, como em um déjà vu, vem à cabeça as mesmas imagens, especialmente da dita sala de espelhos. E neles o reflexo de um homem barbudo. Em um, esguio. No outro, obeso. Cabeça pequena. Cabeça grande. Em todas, cara-de-pau.

Lula, presidente emérito como diz o jornalista João Bosco Rabello, ou presidente adjunto, como apontou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, segue sem mandato, mas atuando como um presidente paralelo. Tudo no Planalto, ao que parece, tem o dedo dele. Do periférico ao principal.

Aliás, Lula, através do Instituto que leva seu nome, segue como a eminência parda do Brasil. Manda e desmanda. Além de Brasília, agora pilota São Paulo. Fernando Haddad, afilhado político que deve seu mandato a estrela maior do petismo, assistiu, sabe-se lá se constrangido, o padrinho comandar a primeira reunião de seu secretariado.

E falando em imprensa, Lula, conhecido por suas pérolas capazes de fazer corar um monge de pedra e de enlouquecer qualquer assessoria, disse, durante evento comemorativo da Central Única dos Trabalhadores (CUT), comparar-se com Abraham Lincoln, ex-presidente norte-americano, líder da luta contra a escravidão à época da guerra civil que assolou os Estados Unidos.

Até aí, nada demais. Lula já se comparou a Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, João Goulart, Tiradentes e, até mesmo, Jesus Cristo. Diante de personalidades tão diferentes, comparar-se a todos, desculpem a blague, tem, inegavelmente, um "que", além da megalomania, de esquizofrenia. Ambas perigosíssimas. Controláveis por remédio. Ou, no caso em discussão, senso de ridículo.

Os espelhos do Playcenter, propositalmente defeituosos, traziam alegria, e descontração. Enfim, agradáveis. Os de Lula, patologicamente defeituosos, tapa na cara do povo em tempos de mensalão, trazem escárnio, irrealidade e falsa percepção. Para não exagerar nos adjetivos.
Lula, assim como outros, teve sua importância. Esquece, porém, diferentemente dos grandes de verdade e por ele invejados, que elogio em boca própria tem cheiro de mofo.


Dirceu do Valle é advogado e professor da pós-graduação da PUC/SP

Fonte:Mogi News