sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Tribuna Livre Escracho Dirceu Do Valle


Dirceu ValleTribuna Livre
Escracho
Dirceu Do Valle

Passada a ressaca das festas, o recesso forense, as férias estendidas e as férias das férias, todos, paulatinamente, passam a retornar à rotina, e, para muitos, parcela desta, é o passar de olhos pelos jornais, acompanhando o que acontece aqui, ali e acolá. Assim, na Folha de S. Paulo, logo no começo da semana, ganhou estas plagas curioso destaque, aquele do tipo "falem bem ou mal, mas falem de mim".

Melhor explicando, veiculou-se notícia de que, desde outubro do ano passado, fora instalado no Centro de Detenção Provisória de Mogi das Cruzes, para testes, um aparelho bloqueador de ligações de telefones celulares, medida adotada para coibir a criminalidade.

Alvissareira medida, como sabido, seguindo o dito antes tarde do que nunca, chegou em momento difícil, que atinge a população paulista, já que, não é de agora, delitos são praticados, "julgamentos" realizados e, até, execuções determinadas, descalabros praticados via telefone, segundo a Imprensa, pelos "hóspedes" do sistema carcerário.

Tornando ao que interessa, do resultado da experiência, noticiado que no estabelecimento prisional sediado em nossa cidade, com pouco mais de 2 mil presos, percebida a existência de, nada mais, nada menos, 1.513 chips ativos de telefonia celular. Tirante os 264 constatados como sendo dos funcionários, presume-se que nas mãos dos presos havia 1.299 aparelhos, índice maior que o número existente entre o resto da população. Ou seja, mais fácil ter um telefone dentro do que fora da cadeia.

Deixando de lado a estranheza de como é possível uma coisa dessas, escandalosa, para dizer o mínimo, falha de segurança, chama a atenção o nível de consciência do direito consumerista daqueles prejudicados.

Não bastasse a existência de tantos celulares - pelos números apresentados, quase cada detento tinha o próprio - , detectadas ligações por parte dos presos para os SACs, Serviços de Atendimento ao Cliente, de cada uma das operadoras, porquanto, inconformados com a impossibilidade de efetuarem ligações, ignorando a existência do sistema que bloqueava as chamadas, muitos ligaram para reclamar do que reputavam uma má prestação de serviços. 
Do lado do governo, com todo o respeito, incompetência. Do outro, também respeitosamente, cara de pau. Em linhas gerais, o inusitado, além de mostrar seríssima falha da administração penitenciária que evidentemente afeta a segurança pública, mostra a fanfarronice que é peculiar do brasileiro, preso ou solto. Pérolas como essa, ao lado de revelar o caos que é a política pública de segurança paulista, mostra o acerto do bordão de José Simão. Definitivamente, somos os campeões da piada pronta.


Dirceu do Valle, é advogado e professor de 
pós-graduação da PUC/SP

Fonte:Mogi News