sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Tribuna Livre: Ladrão?


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Ladrão?
Dirceu Do Valle
Juan Manuel Sanchez Gordillo, prefeito de Marinaleda, pequena cidade em Andaluzia, Sul da Espanha é, confessadamente, um ladrão. E isso admite sem ruborizar. Até aí, pegando por exemplo alguns de nossos políticos de destaque, nenhuma novidade. Roubalheira não é exclusividade da nossa classe política. É bem verdade que temos know how, mas a sacanagem e a falcatrua transitam por várias bandeiras. 
Voltando ao assunto, o alcaide - sujeito verdadeiramente de esquerda e não esse espectro do canhoto que, estrelas no peito, desfilam no horário eleitoral gratuito e, ultimamente, nas páginas policiais, não surrupia dos cofres públicos como sói acontecer entre seus colegas destas pradarias. Subtrai supermercados, mas subtrai para distribuir comida aos pobres de sua cidade cada vez mais miseráveis em razão da crise econômica espanhola. Ladrão, mas um ladrão do bem.

Não se vai aqui enfrentar o prejuízo do empresário, daquele que empreende e gera empregos, que impulsiona a roda da economia. Nada disso. Não se pretende também a análise técnico-jurídica do comportamento com discussões cerebrinas sobre estado de necessidade de terceiros ou, eventualmente, ausência de dolo na prática dos crimes contra o patrimônio se os eventos tiverem somente caráter político. Nada disso, também. A abordagem tem outro viés. 
Pretende-se, isto sim, mostrar que até em matéria de ladrões nos foi reservada a pior cota. Mesmo no assunto ladroagem somos subdesenvolvidos, o que entranhado na nossa cultura. Enquanto os ingleses têm a lenda de Robin Hood a assaltar os coletores de impostos e saquear Nottingham, roubando dos ricos para dar aos pobres, temos, por aqui, Macunaíma, de Mário de Andrade, o herói sem nenhum caráter. E como a vida imita a arte na mesma proporção com que a arte imita a vida, contam os espanhóis - povo feliz! - com um prefeito quixotesco e, também, o protótipo do bom ladrão, desprendido do resultado do butim, distribui a pilhagem aos que precisam em um pedacinho da Ibéria. Entre nós, povo de memória curta e ideia fraca, bom ladrão é o sacana que "rouba, mas faz" ou aquele que, desviado o dinheiro destinado aos que mais precisam, envia o despojo da rapinagem para paraísos fiscais.

Pois é. Há quem mate a fome dos pobres e há quem mate, por tabela, os pobres. Encontramos consolo porque o "Alto" que tudo sabe, que tudo pode e que tudo vê, na hora de encerrar a fatura da existência de cada mau político, cobra com juros e correção monetária toda a sacanagem praticada em vida.

Quisera Deus todos os ladrões por aqui fossem como o "ladrão" espanhol Juan Manuel. Quisera Deus todos os políticos, idem.


Fonte:Mogi News