quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Câncer Mais pacientes vão para São Paulo


Com ampliação de cotas vetada em hospital que também pode ter o descredenciamento, pacientes sofrem
Noemia Alves 
Da Reportagem Local
Jorge Moraes

Renilde: "Foi um balde de água fria porque significava que minha luta contra a doença seria maior"
A Secretaria Municipal de Saúde realizou 141 remoções de pacientes com câncer para tratamento na capital de 1º de janeiro até ontem. Só nas últimas duas semanas, foram 62 viagens. Isso significa que, em média, a cada mês, pelo menos 70 pessoas precisam sair de Mogi para tratar a doença, pois não podem ser tratadas no Hospital do Câncer "Dr. Flávio Isaías" por que o Estado não autorizou o aumento do número de atendimentos no local.


Os números foram apresentados ontem pelo secretário-adjunto da Saúde, Marcello Delascio Cusatis, durante reunião na Câmara. Vereadores voltaram a defender a manutenção do atendimento na unidade gerenciada pelo oncologista Flávio Isaías, que está sob ameaça de descredenciamento do Sistema Único de Saúde (SUS), além da ampliação do teto do tratamento ambulatorial, que hoje é de 1.200 pacientes com uma verba de pouco mais de R$ 700 mil. 
"Sessenta e duas remoções de pacientes, em 14 dias, é um número muito elevado. Mais do que o impacto financeiro à administração municipal, que tem de arcar com transporte, profissionais para acompanhamento, alimentação, há a questão humana, o desgaste físico e emocional dos pacientes. Casos de câncer, por mais simples que sejam, têm tratamento muito agressivo, com diversas reações e uma viagem de mais de 50 quilômetros é muito desgastante. Nossos pacientes têm de ficar aqui, perto de suas casas e de suas famílias", afirmou o secretário-adjunto da Saúde, Marcello Delascio Cusatis. 
Por outro lado, numa Organização Não-Governamental (Ong) que presta atendimento aos pacientes e parentes de pessoas com câncer na cidade, além do gabinete de vereadores, entre os quais de Emília Rodrigues (PT do B), esposa de Flávio Isaías, são inúmeros os pedidos de condução para hospitais da capital. Dependendo do dia e horário agendado na capital, o paciente é obrigado a ir por meios próprios. 
Foi o que aconteceu com a copeira Renilde Maria da Silva, de 45 anos. Além do diagnóstico de câncer na mama esquerda, ela recebeu, em junho passado, a má notícia de que teria de fazer o tratamento em um hospital de São Paulo. "Foi bem na época que o governo do Estado decidiu bloquear os novos atendimentos no Hospital do Câncer em Mogi. Foi um balde de água fria porque significava que minha luta contra doença seria bem maior, já que eu teria que lidar com a distância para o tratamento. Na época, tentei de tudo, desde carona com amigos, aguardar ambulância da Prefeitura e até metrô. O que eu não podia é deixar a doença vencer", relata Renilde, que nos últimos seis meses enfrentava seis horas de viagem de trem e metrô (ida e volta) para a capital, na maioria das vezes, três vezes por semana. 
Mesmo com tanta dedicação, enfrentando enjoos, entre outros desconfortos por conta da quimioterapia, ela teve de se submeter a uma mastectomia, uma cirurgia de retirada da mama. "Agora, o drama é outro, tentar agendar, o quanto antes, uma radioterapia. Se fosse em Mogi, seria melhor. Tenho de correr contra o tempo", diz. 
Jeniffer Garcia, de apenas 26 anos, recebeu há cerca de um ano o diagnóstico de um linfoma. Com ajuda de parentes e amigos, ela segue, por meios próprios, a cada quinze dias, para tratamento na capital. "Meus pais me ajudam muito. Além disso, embora os gastos sejam altos, prefiro deixar o serviço de ambulância para quem é mais carente. A viagem é desgastante e sei que tem muita gente precisando", conta.


Fonte:Mogi News