Jamile Santana
Da Reportagem Local
Maurício Sumiya
Bruno começou a usar drogas aos 13 anos e se tornou traficante; hoje está na fundação Casa
De janeiro a julho deste ano, 44% dos 366 adolescentes que deram entrada nas unidades da Fundação Centro de Atendimento Socieoeducativo ao Adolescente (Casa) de Arujá, Itaquaquecetuba (unidade I e II) e Ferraz de Vasconcelos (unidade I e II), estavam envolvidos com o tráfico de drogas. O índice já superou a média registrada durante todo o ano de 2010, quando 38,8% dos adolescentes internos haviam sido detidos por venda de entorpecentes. (Confira detalhes no quadro)
Em seguida está o roubo qualificado (planejado) com 38% dos casos, o mesmo percentual registrado em 2010. Segundo especialistas, o crime está diretamente relacionado com o tráfico de drogas e ao próprio uso de substâncias químicas.
Para o especialista em segurança e pesquisador criminal, Jorge Lordello, O envolvimento de jovens de 10 a 18 anos com as drogas é crescente. Isto porque as novas gerações anteciparam diversas etapas da vida. "Atividades que eram feitas aos 16 anos, hoje se faz com 12. Garotos e garotas de 10 anos, já estão muito mais evoluídos intelectualmente do que as gerações passadas. Antecipando fases, antecipa-se também os problemas como o consumo de álcool e cigarro que começa hoje aos 12 anos. E quanto mais cedo os jovens tiverem acesso, mais dependentes teremos", considerou.
Outro fator pode explicar o crescimento estatístico: as novas gerações anteciparam fases da vida na mesma época do surgimento de drogas mais pesadas, como o crack que tem efeito devastador e alto índice de dependência já nos primeiros dias de uso. "O crack, por exemplo, é uma droga barata, mas o usuário acaba roubando e furtando para sustentar o vício, ou seja, é um ciclo vicioso", garantiu.
Além disso, sob o efeito de drogas que aumentam a incidência de endorfina no organismo, a prática de crimes, como roubo, é potencializada pela sensação de adrenalina adquirida pelo usuário.
"Esse usuário de droga se torna mais corajoso, pratica o assalto, e é uma verdadeira bomba-relógio´, explicou Lordello.
Educação
Para o interno da Fundação Casa de Itaquaquecetuba, unidade I, Bruno (nome fictício), de 17 anos, o envolvimento com o tráfico começou porque faltava estrutura, tanto familiar, quanto socioeconômica dentro de casa. Começou a usar drogas aos 13 anos, para ser aceito pelos amigos. Por influência deles, participou do primeiro assalto em Poá e foi apreendido na unidade da fundação no Brás. "Saí de lá pior do que entrei. Assim que tive a liberdade já fui traficar. Fiquei 11 meses vendendo drogas e ganhando muito dinheiro. Eu usava o dinheiro para manter minha casa, ajudar minha família", disse. Bruno conta que se recusava vender drogas para crianças. "Para mim faltou instrução para não usar, mas eu me recusava a vender para crianças. Aqui em Itaquá, estou fazendo vários cursos, e hoje enxergo um futuro diferente", contou.
Fonte:Mogi News