domingo, 26 de junho de 2011

Sarney dribla demandas de base

 
PODER Em alguns casos Sarney consegue influir na escolha de um nome mesmo sem o conhecer


BRASÍLIA


Espécie de nomeador-geral da República, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), paira acima da briga diária e quase insana dos partidos aliados para garantir nas estatais e no segundo e terceiro escalões do governo um lugar a seus afilhados. Sozinho, Sarney garantiu mais nomeações do que a maioria dos partidos envolvidos na disputa.


A força de Sarney é tamanha que em alguns casos ele consegue influir na escolha de um nome mesmo sem o conhecer. Foi o que aconteceu com a indicação de Eurides Mescolotto para a presidência da Eletrosul. Ex-marido da ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais), o nome de Mescolotto só foi confirmado na direção da estatal, no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), depois de Ideli recorrer à ajuda de Sarney.


Agora, transcorridos quase seis meses de governo de Dilma Rousseff, o ex-marido de Ideli continua firme na direção da Eletrosul, apesar da pressão pela troca originada no PT, partido da presidente e de Mescolotto.


O nome sugerido para o lugar foi o do ex-deputado Cláudio Vignatti (PT-SC). Mas Dilma não se comoveu e manteve Mescolotto. Vignatti acabou nomeado para a Secretaria de Relações Institucionais, como sub do então ministro Luiz Sérgio que, há menos de vinte dias, foi para o Ministério da Pesca e cedeu o lugar para Ideli Salvatti.


Na semana passada, o PMDB foi a Ideli pedir que fossem nomeados 48 nomes indicados ao governo ainda em janeiro. Deixou a reunião com a promessa de que os pleitos serão atendidos dentro das possibilidades, porque as vagas são poucas.


O governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), entregou uma nova lista de afilhados para a ministra. Cid argumentou que era a mesma do início do governo, mas tomara o cuidado de levá-la novamente a Ideli porque talvez o ex-ministro Antonio Palocci (Casa Civil) a tivesse perdido.


Pois Sarney, sem enfrentar fila, nomeou no início da semana para o Conselho Consultivo da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) os jornalistas Fernando Cesar Mesquita, diretor de Comunicação do Senado, e Virgínia Galvez, responsável pela expansão da rede de TVs do Senado.


Fernando Cesar disse que Sarney garantiu as nomeações porque os dois precisam fazer contato frequente com a Anatel, por causa do projeto de criação de uma rede de emissoras da TV do Senado. Disse que o cargo não tem remuneração e que o Senado tem direito a duas indicações, assim como a Câmara.


De acordo com a assessoria de Sarney, o presidente do Senado aparece como responsável por muitas nomeações porque ele costuma ser procurado pelas bancadas dos partidos e pelos governadores para interceder por alguém. Desse modo, acaba se tornando o grande nomeador na República.


O fato é que dos seis ministros do PMDB, Sarney garantiu dois. Primeiro, Edison Lobão para o Ministério de Minas e Energia, durante o governo de Lula. Lobão foi reaproveitado por Dilma para a mesma função. Em segundo lugar, Sarney pôs o deputado Pedro Novais (MA) no Turismo, atendendo também a pedido da bancada do PMDB na Câmara.


A influência de Sarney no setor elétrico é tanta que alguns políticos afirmam que o sistema Eletrobrás é administrado por um consórcio: Dilma/Sarney. A assessoria do presidente do Senado, no entanto, afirma que Sarney perdeu espaço, porque seu maior afilhado - José Antonio Muniz, presidente da Eletrobrás durante o governo de Lula - deu lugar a José da Costa Carvalho, apoiado pelo PT. Mas Sarney garantiu na presidência de Furnas o afilhado Flávio Decat.


A mão de Sarney está em estatais como a Transpetro, na direção de agências reguladoras, como a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) e a Anatel, no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), na Petrobrás, na Eletronorte, no Banco da Amazônia e na Caixa Econômica Federal, entre outros.


A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de proibir o nepotismo nos órgãos públicos atingiu o clã Sarney. Pelo menos sete membros da família passaram pelo Senado nos últimos 20 anos e, por causa do STF, tiveram de ser afastados.


Fonte:O Diário de Mogi