Larissa Rodrigues
Larissa Rodrigues
Compartilhe!
Integrantes da Unidos da Vila Industrial preparam o desfile de domingo em busca do tricampeonato. (Foto: Elton Ishikawa)
Sem citar o nome de Clara Nunes na letra do samba, o Grêmio Recreativo e Escola de Samba Unidos da Vila Industrial faz uma homenagem à cantora no Carnaval deste ano. Mais do que isso, ressalta a luta do povo escravizado e explorado no Brasil, com o enredo “O Canto das Três Raças”. A apresentação poderá ser conferida este domingo, na avenida Cívica, no desfile das escolas de samba de Mogi das Cruzes.
“Com o tema deste ano estamos completando uma trilogia, sendo que com os dois últimos enredos fomos os campeões do Carnaval. O primeiro falava sobre resiliência, enquanto no ano passado o tema foi Yggdrasil. Nós entramos no desfile porque queremos muito o tricampeonato e estamos indo lá buscar. Para ganhar da gente tem que fazer melhor e espero que isso seja difícil”, enfatizou o presidente da agremiação, Emerson Rodrigues da Silva, o Lézinho.
A confiança na vitória fica ainda mais forte por todo o Carnaval já estar pronto. São 600 componentes, que estarão divididos em 16 alas e quatro carros alegóricos. Tudo já foi finalizado no último domingo e segundo o responsável, agora eles estão apenas melhorando o que for possível. Desta maneira, é possível que os integrantes da escola descansem e entrem focados na avenida.
No total, a agremiação precisou investir cerca de R$ 120 mil na produção, sendo que R$ 40 mil são provenientes de repasse da Prefeitura. “A gente tinha que apresentar um Carnaval somente com esse dinheiro, mas a nossa diretoria não aguenta isso. Nós queremos mostrar uma coisa diferente, que o Carnaval mogiano tem potencial para fazer algo legal, e que as pessoas reconheçam a força do nosso trabalho”, reforçou Lézinho.
O presidente reconhece que a escola perdeu a força em seu bairro de origem e confessa que grande parte dos componentes do desfile é de outras regiões. Ele acredita, porém, que isso mostra o bom trabalho que a agremiação vem fazendo tendo em vista que 30 dias antes do evento todas as fantasias já haviam sido vendidas.
“O canto das três raças”
Oh mãe áfrica
Seus filhos vêm aclamar!
Arrancados do seu chão
Jogados no porão
No tumbeiro a navegar
Hoje sou mercadoria
Trago no peito a marca da covardia
Real meu sangue escravo na cor
Sem meu batuque e identidade nagô
Meu canto não ecoou
No cativeiro
Forjando a cicatriz da ignorância
No sangue derramado a intolerância
Olhai por nós senhor
Os filhos deste chão
Na crueldade, vejo a esperança
No sofrimento um irmão
Vencendo preconceitos
Tenho meus direitos
Mostro meu valor
Um canto livre por liberdade
Imponho respeito, dignidade
Hoje o quilombo e a favela é aqui
Becos e vielas
Faz a vila se unir
De punhos cerrados
A mordaça não vai calar
Vem lutar
Ninguém ouviu um soluçar
Triste lamento ecoou
No canto das três raças
Não sou escravo de nenhum senhor