segunda-feira, 1 de agosto de 2016

As raízes mogianas de Maju

As raízes mogianas de Maju

 31 de julho de 2016  Comentários (0)  QUADRO DESTAQUE  1
O marido de Maju, Agostinho Paulo Moura, Xavier, o filho dele, Andrew, e Maju, na espera pelo revezamento da tocha olímpica / Foto: Divulgação
O marido de Maju, Agostinho Paulo Moura, Xavier, o filho dele, Andrew, e Maju, na espera pelo revezamento da tocha olímpica / Foto: Divulgação
O marido de Maju, Agostinho Paulo Moura, Xavier, o filho dele, Andrew, e Maju, na espera pelo revezamento da tocha olímpica / Foto: Divulgação

ELIANE JOSÉ

Atrás da decisão da jornalista Maria Júlia Coutinho, a Maju, do Jornal Nacional, de participar do revezamento da tocha olímpica pelas ruas de Mogi das Cruzes, enreda-se uma história iniciada nos anos de ouro da siderurgia nacional e parecida com a de milhares de migrantes mineiros, com ascendentes paulistas, e passagem pela Cidade, antes de seguir para a Capital.
Com sentido, ela postou foto daquele dia, em sua página pessoal do facebook, com o dizer: “Parte da minha família é de Mogi das Cruzes. Parte da minha identidade foi construída em Mogi”.
Essa identidade começa quando o avô da Maju, Pedro dos Santos, deixou Varginha, em Minas Gerais, para trabalhar na Mineração Geral do Brasil (MGB) e veio morar na vila construída pela família Jafet para receber os cerca de 800 trabalhadores que tocariam a usina, grande parte deles, vindos daquele estado e do Rio de Janeiro para Mogi.
Pedro era casado com Zulma, e os dois tinham como referência na Mogi da década de 1940, um primo, Sebastião Xavier e a mulher dele, Maria de Lourdes, dona Nãna. As duas eram amigas de infância, os quatro da mesma cidade natal.
Da família Santos, também viveram na Vila, a irmã de Zulma, Iracema, conhecida por fundar o Centro Espírita Sementeira do Bem, e a bisavó de Maria Júlia, Sá Maria Inácia, como era conhecida por todos.
A Vila Jafet era formada por 500 casas, ocupadas por núcleos familiares com destinos semelhantes e, que ainda hoje ali permanecem, em suas terceiras e quartas gerações. Os mineiros chamavam irmãos, primos e conhecidos para a aventura na indústria de São Paulo. Todos fizeram parte do início do processo de industrialização e de expansão populacional de Mogi das Cruzes, a partir dos anos 1940. Muitos funcionários aposentaram na siderúrgica. Sebastião Xavier foi um deles – trabalhou ali durante 57 anos. Outros não. Caso do avô de Maju.
Pedro não voltou mais para o chão de fábrica aquecido pelas caldeiras de aço após um susto daqueles. Em um dos graves acidentes ocorridos no interior daquela empresa, comuns no passado sem regras trabalhistas e de segurança, ele escapou de ter o corpo queimado ou de um pior infortúnio porque escapuliu do lugar depois de um estouro da caldeira fervente, por um vão bem pequeno. Quem lembra é Marilu Xavier Vilaça, uma das filhas de Sebastião Xavier.
“Ele passou um grande susto, e conseguiu escapar por um buraco muito pequeno. Era magrinho. Não ficou ferido, mas não voltou a trabalhar lá. Foi tentar a vida em São Paulo, onde acabou criando a família”, conta ela.
A amizade entre as duas famílias se mantém ainda hoje, com a troca de visitas e encontros como a festa de casamento de Zilma, mãe da jornalista que iniciou carreira na TV Cultura e se tornou mais conhecida quando passou a fazer o noticiário do tempo, em tom informal e de fácil compreensão, ao lado ao apresentador e editor do Jornal Nacional, William Bonner.
Xavier Filho, cantor, compositor e carnavalesco durante muito tempo da escola de samba da Vila Industrial, põe fim às curiosidades lançadas na entrevista dada TV Diário, na semana passada, quando a repórter falou sobre as boas lembranças de Mogi, de tempos passados ao lado de familiares.
– Então, Xavier, você é primo da Maria Júlia?
“Não, ela quem é minha prima, eu nasci primeiro”, corrige ele, ao falar sobre o parentesco entre ambos. “Mesmo depois que o avô dela mudou-se para a Vila Matilde, em São Paulo, ele e o meu pai, continuaram amigos. Eu mesmo fui ao casamento da mãe da Maju, a Zilma”, contou.
Avisados há mais de um mês sobre a vinda da prima a Mogi, para a passagem da tocha olímpica, os familiares foram recepcioná-la no ponto onde ela recebeu o símbolo das mãos do apresentador Serginho Grosmain.
“Para nós, a Maria Júlia é a mesma pessoa que frequentava a casa das minhas irmãs, quando era mais nova. E nós torcemos por ela, após a troca da TV Cultura pela Globo. Quando a vi fazendo a previsão do tempo, não pensei que fosse fazer tanto sucesso. Ela inovou a cobertura com termos populares, como “friaca”, e as pessoas se identificaram com ela. Outro dia, ouvi o Silvio Santos, na concorrência, falando sobre ela”, diz.
A irmã dele, Marilu, pontua: “Para nós é um orgulho imenso ver uma mulher negra representando a nossa raça e classe numa TV Globo, e se mantendo como antes, gentil, tranquila, como quando vinha para a minha casa e saía com a minha filha para as baladas em Mogi ou para as festas da Vila”.
Na Vila Industrial, com o sucesso da profisisonal, muitos tinham curiosidade sobre o parentesco, reforçado após a entrevista.
“Quando ela foi vítima de racismo, muitas pessoas falavam, também somos Maju (foi criada uma hastag #somostodosmaju#, com milhares de likes). Mas, para ser sincero, aquilo não nos surpreende. Sou calejado pela vida, todos nós, negros, somos. Mas, foi um movimento interessante, que reforça a nossa negritude e a de outras pessoas que, quando se destacam em alguma área, enfrentam o racismo. Preto não pode subir na vida que é vítima desse tipo de preconceito”, encerra.



Usina inicia história da indústria mogiana

Com a produção do ferro gusa, em 1944, começa para valer a história da Mineração Geral do Brasil, construída na faixa de terreno do lado direito da linha ferroviária, na faixa de terreno que se transformaria na atual Vila Industrial. Dois anos antes, a usina começou a ser construída.
A trajetória de milhares de trabalhadores de Mogi das Cruzes e de algumas cidades da Região está ligada à da empresa, que sofreu uma intervenção, em 1967, após enfrentar sérias dificuldades financeiras.
A partir daí, pela passaria pelas mãos da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), com a fundação da Companhia Siderúrgica de Mogi das Cruzes (Cosim), que encerrou suas atividades na década de 1980. Depois, a Inal (Indústria Nacional de Aço Laminado) retomou as operações, do que estava fadada a ser ruir em definitivo, em 1998, com a demolição das antigas dependências.
O terreno foi desmembrado e abriga agora outras atividades industriais, no parque fabril mantido às margens da Avenida Tenente Onofre Rodrigues de Aguiar. (Eliane José)

Fonte:O Diário de Mogi