segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Degradação atinge 566 hectares

JÚLIA GUIMARÃES
Mogi das Cruzes possui 566 hectares licenciados para a atividade de 25 empresas mineradoras. O Município ainda abriga outras 22 unidades abandonadas, o que indica que a área degradada pode ser consideravelmente maior, possivelmente próxima do dobro do total legalizado. Se os números já são preocupantes, os reais impactos e efeitos da devastação provocada pela atividade extrativista, normalmente realizada em áreas pouco acessíveis, só podem ser realmente mensurados de perto. Fotografias aéreas feitas recentemente por O Diário revelam paisagens impressionantes. As imagens das cavas gigantescas misturadas ao tom desértico da areia e ao azul das lagoas de decantação formam um cenário com ares quase extraterrestres, digno dos filmes de ficção científica. A situação é fruto de uma legislação branda, que só passou a garantir uma recuperação ambiental eficiente nos últimos cinco anos, mas que ainda autoriza a extração mineral em regiões impensáveis, como áreas de mananciais e de conservação ambiental.


No total, Mogi das Cruzes tem 47 áreas degradadas pela extração de minério. A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) não possui números que indiquem a extensão dos terrenos ocupados pelas minerações abandonadas. Por enquanto, sabe-se apenas que há 22 áreas nestas condições no Município, sendo a maior parte delas localizada no Taboão. Em entrevista a O Diário, o gerente da agência regional da Cetesb, Edson dos Santos, informou que o órgão está realizando um levantamento para identificação dos proprietários, que posteriormente serão notificados a realizar a recuperação ambiental das áreas. Ele esclarece que a pesquisa é demorada porque faz parte de um passivo de 1200 processos herdados do antigo Departamento Estadual de Proteção dos Recursos Estaduais (DEPRN), recentemente unificado à Cetesb. "Estamos fazendo uma triagem e separando os processos referentes às mineradoras abandonadas para identificarmos os responsáveis. Depois disso, ainda precisaremos fazer uma investigação de campo para determinar o total da área que precisa ser recuperada".


Já para as 25 empresas em funcionamento, a Cetesb possui dados bastante detalhados, que indicam a localização e o tamanho da área licenciada para cada uma delas (confira quadro na página 3). O levantamento indica que 5.660 milhões de metros quadrados do território mogiano estão licenciados para a atividade mineradora. A área poderia receber 38 estádios de futebol do tamanho do futuro Itaquerão, que está em construção na Zona Leste da Capital para receber os jogos da Copa do Mundo de 2014. Outra dimensão bastante impressionante é a profundidade das cavas de extração do minério. Nas mineradoras maiores e mais antigas, os barrancos chegam a alcançar 30 metros de altura, medida compatível com um prédio de 11 andares. E é justamente nestes casos que a recuperação se torna mais difícil, já o que o minerador acaba encontrando dificuldades em cumprir a atual legislação, que determina a recuperação do solo por módulos (leia mais na página 3).


O levantamento fornecido pela Cetesb indica que a maior mineração em funcionamento na Cidade é a Itquareia, de Jundiapeba, com 125 hectares de solo legalizado para extração de areia. O grupo, que também possui áreas de cava em Itaquaquecetuba, ainda mantém outras duas minerações em solo mogiano, de 49,88ha e 81,34 hectares. Também são grandes as propriedades das empresas Nova Itapissera, de Jundiapeba, e Ramos Marques, de Taiaçupeba, que extraem areia em áreas de 75 e 50 hectares, respectivamente. De dimensões bem menores, com apenas 4 hectares de escavações, a Mineração Caravelas também chama a atenção entre as firmas relacionadas pela Cetesb. O empreendimento, localizado no distrito de Braz Cubas, é o único encravado na área urbana do Município. De acordo com Edson Santos, futuramente, a área poderá ser urbanizada e incorporada à Cidade, já que as atividades de mineração não geram contaminação. No entanto, o proprietário do empreendimento, o empresário José Cardoso, revelou que o fim da extração ainda deverá demorar bastante: "Fazemos extração na Caravelas desde 1980 e ainda não retiramos nem 20% da areia que existe lá".


Fonte:O Diário de Mogi