terça-feira, 31 de março de 2020

ENTREVISTA: Médico mogiano que se recuperou da Covid-19 relata experiência

12 horas atrás6 min. - Tempo de leitura
Larissa Rodrigues
Compartilhe!

AVALIAÇÃO Austelino Mattos alerta que a doença pode ser bem grave e complicada para os pacientes. (Foto: arquivo)
No último dia 15, o médico e ex-vereador Austelino Mattos começou a ter febre e sentir falta de ar. Não demorou para desconfiar que seria um quadro de Covid-19. Ele teve contato com a primeira paciente da doença confirmada em Ferraz de Vasconcelos e havia viajado para Maceió, em Alagoas. Ele procurou por um hospital, onde fez tomografia que apresentava imagens sugestivas ao coronavírus. Somente na última sexta-feira, o morador de Mogi das Cruzes obteve alta médica.

“Foi em um domingo que procurei o hospital pela primeira e como meu quadro era leve, optei por me isolar e ficar em casa enquanto me recuperava. Quando chegou na quarta-feira, meu quadro piorou muito. Comecei com falta de ar, andava um pouco e já sentia falta de ar, com febre de 38,5º, 39º. Voltei ao hospital, fiz outra tomografia e a imagem já era muito pior. Então, falei que poderia me internar. A saturação de oxigênio normal é acima de 92 e a minha estava em 86. Mais um pouco precisaria da ventilação mecânica, mas fiquei no oxigênio”, relata.

Internado, a saturação começou a melhorar, ficando entre 92 e 93. Para curar esses sintomas mais fortes, ele foi tratado com a cloroquina e azitromicina, medicamentos que vêm sendo testados na cura da doença, além de mais um antibiótico. Ainda assim, o médico sentia fortes dores no tórax, que só foram melhorando com o decorrer dos dias.

Seis dias no hospital já tinham passado, quando ele começou a apresentar melhora. Na quarta-feira e quinta-feira não teve mais febres e na sexta-feira começou a conseguir respirar sem restrições para puxar o ar.

Hoje, ele ainda não se sente totalmente recuperado e está em casa tomando bastante líquido e se alimentando, já que voltou a sentir o gosto dos alimentos. Cirurgião vascular e atuando também na emergência, ele conta que pretende voltar a trabalhar somente na próxima semana, porque neste momento precisa ajudar o sistema de saúde.

“A gente só tem noção mesmo da doença quando sente na pele. Sentir a dor dos outros é mais difícil. Mas posso dizer que o coronavírus é grave e é difícil. Não tem isso de ‘gripezinha’ não. Pode ser que em um ou outro paciente, ela se manifeste como uma doença mais leve, mas a realidade é que ela pode ser bem grave e complicada”, pondera Mattos.

Ele ressalta ainda que é importante cumprir as recomendações das secretarias de Saúde, assim como as do Ministério de Saúde, para conter o avanço da doença, sempre lavar as mãos, usar o álcool em gel, evitar aglomeração e ir para o hospital sem necessidade, já que esses locais são contaminados.

Confira o que já se sabe sobre a doença

ORIENTAÇÃO Lavar as mãos com água e sabão é uma das principais medidas para evitar a contaminação. (Foto: divulgação)
Eliane José

Com pesquisas ainda em andamento, as informações sobre o comportamento do novo coronavírus, que tem o nome científico de Sars-cov-2 e transmite a doença Covid-19, estão ainda sendo processadas. Mas alguns dos estudos já são mapeados por agências e associações internacionais médicas. Uma pesquisa pela internet revela que entidades brasileiras estão alimentando seus sites com notas e informes oficiais sobre o tema. Há estudos que dizem que cada infectado pode contaminar duas a três pessoas, ou até seis pessoas. Isso ocorre por causa das características do vírus que pode sobreviver em cima de objetos plásticos ou inoxidáveis por até três dias – tempo suficiente para infectar uma pessoa, e a forma de contágio: pelo ar, por meio de gotículas que podem ser transmitidas por espirro, tosse ou fala, ou o toque das mãos em cima de um objeto ou paciente contaminado, e a colocação das mãos no rosto (boca, nariz, olhos).

Por isso essa corrida preventiva contra esse efeito dominó, verificado nas cidades que registraram grandes números de doentes. A seguir, algumas das principais informações sobre o coronavírus, extraídas de sites como Ministério da Saúde (www.saúde.gov.br) e da Sociedade Brasileira de Infectologia (www.infectologia.org.br).

Sintomas

Os sintomas mais comuns são febre, tosse seca e cansaço. Mas também coriza, obstrução nasal, dor de garganta e diarreia, esta última menos frequente. Há pacientes que relatam a perda temporária do olfato e do paladar. A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulga um estudo com 56 mil pacientes e destaca que 81% dos infectados desenvolvem sintomas leves (febre, tosse e, em alguns casos, pneumonia), 14% sintomas severos (dificuldade em respirar e falta de ar), necessitando internação para oxigenioterapia e 5% doenças críticas (insuficiência respiratória, choque séptico, falência de órgãos e risco de morte). O grande desafio é: pessoas sem os sintomas transmitem o vírus para outros indivíduos.

Maior risco

A população que apresenta sintomas graves e tem morrido possui mais de 60 anos e doenças preexistentes (hipertensão arterial, diabetes, doença cardíaca, doença pulmonar, neoplasias, transplantados, uso de imunossupressores).

Quando ir ao hospital

Quando o paciente apresentar “síndrome gripal”: tosse e febre por mais de 24 horas ou dificuldade para respirar, mesmo que sem o aparecimento de febre (temperatura acima dos 37 graus). O grande dilema está no fato de que os sinais de gripe podem ser causados tanto pelo novo coronavírus ou pelo vírus da influenza, que voltou a fazer vítimas neste ano no Brasil. De acordo com a Sociedade Brasileira de Infectologia, “não é possível diferenciá-los clinicamente”, o que pode ser feito apenas por testes diagnósticos virológicos.

Isolamento

As pessoas com sintomas leves de resfriado ou com sinais leves de gripe devem permanecer em isolamento respiratório domiciliar por 14 dias, mesmo que não possam fazer o exame específico para a Covid-19.

Infecção

Ainda não se tem a certeza se uma pessoa pode ser infectada mais de uma vez pelo novo coronavírus. Foram divulgados dois casos de reinfecção pelo vírus, um na China e outro no Japão; entretanto, pode se tratar de casos de infecção prolongada, como observado em outras infecções. E um estudo chinês com macacos rhesus não demonstrou reinfecção (Baoet al., 2020).

Transmissão

A transmissão ocorre de pessoa a pessoa pelo ar, por meio de gotículas exaladas pela pessoa doente quando ela fala, tosse ou espirra. Quando a pessoa doente toca em objetos ou aperta a mão de outra pessoa e esta coloca a mão à boca, nariz ou olhos, também ocorre a infecção. Como há muitas pessoas assintomáticas, é recomendável não cumprimentar as pessoas com as mãos.

Duração

Ainda não se sabe quanto tempo o vírus vive fora do organismo. Estudos sugerem que ele pode persistir em superfícies por algumas horas ou até vários dias, por isso a importância de se higienizar as mãos e objetos de uso público ou coletivo.

Grávidas

Gestantes devem se proteger e seguir as mesmas recomendações do público em geral para evitar o contágio pelo vírus. Até o momento, elas não parecem ser um grupo de maior risco para doença grave, como ocorreu na pandemia da gripe H1N1. O novo coronavírus não é transmitido ao feto ou ao bebê durante a gravidez ou no parto, segundo estudos disponíveis até o momento.

Fonte:O Diário de Mogi