quarta-feira, 19 de setembro de 2018

ENTREVISTA DE DOMINGO: O diário de Karin Melo

16 de setembro de 201811 min. - Tempo de leitura
Carla Olivo

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Karin Melo conta histórias dos tempos de escola, da família e do Fundo Social de Solidariedade. (Foto: Eisner Soares)
As histórias de infância e adolescência vividas por Karin Yukie Ciocchi de Almeida e Melo na casa dos avós italianos e japoneses, os tempos de escola – quando começou a namorar o marido, Marcus Vinicius de Almeida e Melo, e enfrentou forte resistência da família que apostou em dois intercâmbios de estudos internacionais para tentar separar o casal -, e as experiências vividas como voluntária e presidente do Fundo Social de Solidariedade de Mogi das Cruzes rendem páginas de um diário. Mogiana, a filha caçula do profissional da área de Recursos Humanos, Luiz Antonio Ciocchi, 73 anos, e da cabeleireira Ikuko Kuroki Ciocchi, 72, estudou o primário no antigo NEC – hoje Colégio Ienec -, fez o ginasial no Colégio Santa Mônica, onde conheceu Marcus e começou a namorá-lo – e o colegial no antigo Colégio Horizontes, na Capital. Formou-se em Direito na então Universidade Braz Cubas (atual Centro Universitário Braz Cubas), não exerceu a profissão, mas começou a trabalhar aos 16 anos como office-girl numa empresa de recolocação profissional, passando também pela área de comércio exterior, no período em que os pais moraram em São Paulo, até sua família abrir uma corretora de seguros em parceria com a Vera Cruz, em Mogi. Durante 15 anos, Karin se dedicou à coordenação administrativa do Colégio Brasilis – pertencente aos pais de Melo -, de onde saiu em 2009 para atuar como voluntária no Fundo Social, que preside desde janeiro de 2017. Na entrevista a O Diário, a mulher do prefeito de Mogi, que prefere deixar o título de primeira-dama de lado e ser chamada apenas de Karin, compartilha suas histórias com os leitores:

Como foi a infância e adolescência na Cidade?
Foi um período muito tranquilo e gostoso da minha vida e tenho ótimas lembranças da casa dos meus avós paternos, que eram italianos, e maternos, de origem japonesa. O Natal era sempre com a família do meu pai e o Ano-Novo com a da minha mãe, ambas em Suzano. No Réveillon, fazíamos o motiyori, onde cada um levava um prato de comida, e bingos com prendas também doadas pela família. O tio Paulo, que não se casou e não teve filhos, era palhaço da turma e a alegria da criançada. Colocávamos futons na sala e dormíamos todos juntos. Hoje tenho apenas a avó paterna, Olga, que está com 92 anos e ainda mora na mesma casa, em Suzano.

Quais as recordações de seus pais?
Meu pai sempre trabalhou muito para nos dar as melhores condições em casa. Ele passou pela Polo Norte, Orsa e Cia. Suzano (Suzano Papel e Celulose), todas em Suzano, e ficou a maior parte do tempo na Aços Anhanguera (hoje Gerdau). De Mogi, foi trabalhar em São Paulo, presidiu a Associação Paulista de Recursos Humanos, participava de grandes congressos da ABRH (Associação Brasileira de Recursos Humanos) e fez parte do grupo que começou o Conarh (Congresso Nacional sobre Gestão de Pessoas), que existe até hoje. Minha mãe teve uma infância sofrida. Os pais vieram do Japão como imigrantes, em busca de melhores oportunidades de trabalho e foram para a lavoura, em Bastos. Como a maioria das famílias japonesas, as mulheres trabalhavam para pagar a faculdade dos homens. Assim como as duas irmãs costureiras, ela destinava 70% do salário à faculdade dos irmãos. Ela e meu pai se conheceram em Suzano, mas os japoneses não aceitavam o casamento com brasileiros e ela foi a única da família que se casou com alguém fora da colônia. Minha mãe foi corajosa, firme e a história se repetiu mais tarde comigo. Ela abriu mão da profissão quando meu irmão mais velho, o Fábio, nasceu, e passou a cuidar da casa e dos filhos.

Onde você estudou?
Fiz o primário no NEC, onde fui alfabetizada pelas tias Fatiminha e Fany, e o ginásio no Santa Mônica. Lá, fiz amigos que conservo até hoje, com a Cristiane Nagao, Rafael Russo, Juliana Nahum, Lara Magnetti, Rafael Alabarce, Bianca Makssud, Marcelo Montenegro, Iram, Mauren, Eulália, Fabíola, Marcela e o próprio Marcus, meu marido, que conheci lá, onde começamos a namorar.

Como teve início esta história?
Tudo começou porque minha irmã, Thaís, mais velha que eu, namorava o Renê, irmão do Marcus, e como meu pai não a deixava sair se eu não fosse junto, eu ia segurando vela. Só que o Renê sempre estava com o Marcus e, então, acabamos namorando também. Com 15 anos, a Thaís engravidou e isso, há 30 anos, era um escândalo. Nossas famílias eram conhecidas na Cidade e foi muito complicado. Ela escondeu a gravidez durante cinco a seis meses e, neste período, me pedia dinheiro emprestado da mesada que recebíamos do meu pai para comprar uniformes cada vez maiores da escola, a fim de tentar esconder a barriga. Eu também não sabia e foi um sufoco para contar para o meu pai.

Como foi este período?
Foi difícil. Minha mãe ajudava a cuidar do meu sobrinho Luiz Fernando, que batizei junto com o Marcus, e ela o levava para a Thaís amamentá-lo nos intervalos das aulas no Santa Mônica. Minha irmã foi morar com o Renê na casa dos pais dele e meu pai também não queria ver o Marcus nem pintado de ouro na frente dele, então, nos mudamos para São Paulo, onde estudei o colegial. Ele queria nos separar a todo custo, mas havia vínculo entre nós porque eu vinha visitar minha irmã, ajudar a cuidar do Luiz Fernando e sempre via o Marcus. Então, os pais dele o mandaram para um intercâmbio de um ano na Austrália, mas nós nos correspondíamos por carta e tenho até hoje isso guardado em casa. Quando ele voltou, meus pais fizeram uma nova tentativa de nos afastar, me enviando para o intercâmbio de um ano na Flórida. Não teve jeito, quando voltei, nos reencontramos na praia, em São Sebastião, e voltamos a namorar. Era mesmo o nosso destino. E eu e o Marcus viajamos muito para as disputas de rally com a Thaís e o Renê, que há 10 anos se separaram.

E como vocês conseguiram o aval da família?
Foi uma dureza contar que estávamos juntos de novo, então, o namoro era escondido. Um dia, o Marcus decidiu que iria conversar com o meu pai. Quando ele disse sobre o namoro, meu pai me mandou escolher entre ele e o Marcus. Foi um sufoco, mas sempre nos gostamos, então não havia como nos separar. Quando o Guilherme nasceu vim morar com o Marcus em Mogi. Com o tempo, meu pai foi se acostumando e há anos tudo mudou. Hoje, ele tem carinho e orgulho gigantescos do Marcus e fala dele até com lágrimas nos olhos.

Onde você trabalhou?
Aos 16 anos, trabalhei como office-girl numa empresa de recolocação profissional, e em seguida passei para a área de comércio exterior, quando ainda morávamos em São Paulo. Depois, minha família abriu uma corretora de seguros em parceria com a Vera Cruz, a L.A. Ciocchi Corretora de Seguros, em Mogi. Trabalhei com ele e depois fiquei 15 anos na coordenação administrativa do Colégio Brasilis. Eu trabalhava na unidade 1 e ele na unidade 2 da escola e foi uma fase muito gostosa, perto dos filhos, da casa, e em contato direto com os professores. Saí de lá em 2009 para atuar como voluntária no Fundo Social de Solidariedade.

Por que você a escolha pelo voluntariado?
O Marcus estava envolvido na Associação Comercial de Mogi, onde foi presidente e começou o relacionamento com o Marco Bertaiolli. Eu quis fazer parte da equipe da Mara e comecei a me envolver no Fundo Social, mas a vontade de trabalhar no voluntariado já me acompanha desde a infância porque minha mãe foi voluntária durante mais de 30 anos da Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), onde cortava o cabelo gratuitamente dos alunos e pais de lá. Em São Paulo, ela também atuou como voluntária do Hospital do Servidor Público e ajudava a cuidar das crianças com câncer. Lembro que chegou várias vezes chorando em casa depois de passar o dia lá. Então, ao vê-la ajudando quem precisava, eu também sentia vontade de fazer o mesmo. Além disso, ela sempre nos envolvia em alguma atividade de lá.

Qual a avaliação do trabalho no Fundo Social?
O Fundo Social não é assistencialismo. Claro que temos as campanhas de arrecadação de agasalhos e brinquedos, que são tradicionais, mas nosso maior desafio hoje são os cursos de geração de renda, em parceria com a Secretaria de Educação, que acontecem de forma descentralizada. O Fundo Social tem a missão de escolher os bairros para este trabalho que visa capacitar e gerar renda. Sempre temos cestas básicas aqui para atender famílias que sabemos que enfrentam necessidades pontuais, mas nosso foco é capacitar e ensiná-las a gerar renda. No próximo dia 8 de novembro, teremos a formatura de mais 300 pessoas que concluíram cursos como o Mãos na Massa, de panificação, manicure, pedicure, cabeleireiro, corte e costura, entre outros.

O que significa esta atividade em sua vida?
Este é um trabalho satisfatório e não me vejo em outra atividade, porque lidamos com as necessidades e os sentimentos das pessoas. Gosto de visitar estes grupos, conhecer a história de cada um, participar das confraternizações, onde cada um leva um prato, porque mais do que capacitar, esta socialização e amizade fazem com que as pessoas formem uma grande família. Em cada conversa, nasce um novo projeto. Não paramos. Temos seis pessoas no Fundo Social e mais de 500 voluntários em toda a Cidade. E há muito o que fazer. Agora, com o banco de dados, conseguimos destinar a pessoa interessada em atuar como voluntária à entidade que precisa daquele tipo de ajuda que ela pode oferecer. O Família Solidária é um projeto maravilhoso, que está crescendo de forma surpreendente, e está aberto à toda a Cidade, basta querer ajudar.

Quais outros projetos do Fundo Social você destaca?
Sou fã de todos, mas destaco o Cabelegria, o banco de perucas para pacientes em tratamento contra o câncer, que funciona no prédio do Pró-Mulher, no Mogilar, e atende mulheres de Mogi e de várias outras cidades. Ah, e o circo está de volta à Cidade. Vamos levar as crianças novamente, como fizemos no ano passado, quando fomos com mais de 5 mil crianças assistir ao espetáculo.

Há histórias vividas no voluntariado que ficaram marcadas?
Tem várias, como o caso do Samuel, que é cadeirante, enfrenta vários problemas e mora no Jardim Piatã. Eu o conheci na reportagem de O Diário sobre este nosso dia no circo e o ajudamos até hoje. Há a Natalie, de Sabaúna, que doamos cadeira de rodas adaptada; a revitalização do parque de diversões do Lar Batista, que contamos com a ajuda de vários parceiros, entre outras histórias que nos emocionam.

O Marcus e você ainda não tinham exercido cargos políticos até a eleição dele como prefeito. Como você lidou com este desafio?
Tudo aconteceu no susto, mas deu certo porque sempre gostamos de desafios e nos sentimos prontos para aceitá-los. Houve uma época em que ele chefe de gabinete do Marco Bertaiolli, diretor do Semae (Serviço Municipal de Águas e Esgotos), presidente da Associação Comercial e ainda estava envolvido em várias outras atividades. Dava conta de oito funções ao mesmo tempo. Então, quando recebeu o convite para ser candidato e conversou comigo e os filhos em casa, concordamos e demos todo o apoio. Eu fui me adaptando ao que tinha que ser feito, com a experiência de já acompanhá-lo, mesmo que não fosse ainda na esfera política, em várias outras atividades. Como sempre fizemos tudo muito juntos, esta parceria nos ajudou neste desafio. Na verdade, não nos vemos longe um do outro e acho que se não fosse assim não seríamos bem-sucedidos naquilo que fazemos.

Como é a primeira-dama Karin?
Não gosto deste título e prefiro ser chamada apenas de Karin, porque isso não faz parte do meu perfil. Parece que torna a pessoa intocável, distante e não sou assim. Sou de pisar no chão, de colocar as mãos na massa mesmo. Sempre fui assim e não é agora que vou mudar. As pessoas que não me conheciam e se aproximam para conversar comigo, logo percebem que sou bem acessível, não me blindo de nada e, por isso, tenho recebido o carinho e ajuda de muita gente.

Fonte:O Diário de Mogi