quarta-feira, 18 de julho de 2012

Boca no trombone Nós, os hipócritas, Fábio Simas


Fabio SimasFoi dada a largada para as eleições municipais, período em que, além da estética trash da maioria dos candidatos, vemos um festival da hipocrisia. Aquele que até há pouco cruzava conosco pelas ruas e fingia que não nos via, hoje, distribui abraços e sorrisos. Para alguns, chegou o momento de deixar a soberba de lado e encarnar o personagem do homem que ama a plebe, em interpretações tão ridículas, tão burlescas, que os tornam verdadeiros canastrões. É hora de sair de carro popular, apertar mãos suadas, beijar crianças "melequentas", conversas ao pé de ouvido cheias de saliva, enfim, enfrentar o corpo a corpo com o povão, em um vale tudo para conseguir uma cadeira na máquina pública.


Essas cenas fazem parte do folclore brasileiro, repetem-se a cada dois anos, estão impregnadas no imaginário popular, porém, embora muitas vezes seja desconsiderado, há outro lado da moeda: a falsidade dos eleitores. Isso mesmo, o nosso fingimento.


As calçadas tornaram-se palco para discursos laudativos para os anônimos do dia a dia. Pessoas comuns em poucos minutos têm o ego inflado por aqueles que almejam o mandato popular, e derramam-se em deslumbramento. Pior ainda é quando o cara tenta a reeleição, pois é quando nos sentimos importantes ao sermos cumprimentados por aquela "autoridade".


Hedonistas, somos fisgados pela vaidade. Ficamos inebriados, de maneira que as críticas que lançávamos aos políticos até dias atrás são todas deixadas de lado. Aquele que até a semana passada era um desastre de prefeito, um vereador medíocre ou um belo picareta, se torna um estadista.


Assim, na oportunidade que temos de ficar frente a frente com aquele que vai nos representar, preferimos o panegírico ao questionamento. Damos primazia às loas que nos são ditas e deixamos de discutir suas ideias e qual o alcance de seu compromisso com a coisa pública.


No caso de eleições municipais, nenhuma pergunta sobre a elaboração do Plano Diretor; a organização e execução dos serviços públicos; o uso e ocupação do solo e as normas de edificação e de zoneamento urbano e rural; a viabilidade, conveniência e oportunidade de seus projetos diante do interesse comum etc.


A cidadania é afogada no oceano de elogios e tapinhas nas costas. Então, como meia dúzia de palavras bonitas é o que nos basta, não adianta falar que temos de investigar a vida do candidato quando na verdade nós gostamos desse teatro todo, quando a canalhice nos é afável.


Encerradas as eleições, como que uma sociedade esquizofrênica, voltamos ao status quo ante, ou seja, eles voltam a não nos reconhecer, retomam a habitual empáfia, e nós fingimos que os criticamos, simulando virtudes que não temos.


Fábio Simas, é advogado e colabora toda quarta-feira com esta coluna


Fonte:Mogi News